quarta-feira, 1 de março de 2017

A agonia das religiões e suas adaptações na Era dos Direitos Humanos


Sérgio Henrique da Silva Pereira, Jornalista
há 5 dias
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Após a Segunda Guerra Mundial, utilitarismos diluíram-se. Não mais única religião, mesmo que as constituições democráticas garantissem o Estado Laico, por força dos costumes. O pluralismo religioso à luz do dia poderia ser aplicado.
Na Constituição Política do Império do Brasil (de 25 de março de 1824), a religião oficial no Brasil era a Católica Apostólica Romana. As outras Religiões "serão permitidas com seu culto doméstico, ou particular em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior do Templo" (art. 5º).
A partir de 1891, o Estado não era mais Estado religião, mas laico. Mesmo assim, continuou com a tradição judaico-cristã. As religiões africanas nunca foram bem-vistas, apesar das "recaídas" de católicos e evangélicos. Idas aos terreiros para que alguma entidade conseguisse casamento, dinheiro etc. Contemporaneamente, as Igrejas Evangélicas tornaram-se um tipo de "sedex religioso": pagou dízimo, tem tudo o que Ele possa dar. Lutero deve estar se remoendo pelo "mercado da fé".
Desde o momento no qual o Estado deixou de ser Estado religião, tudo mudou. Karl Marx dizia ser a religião o "ópio do povo". Ou seja, as religiões não permitiam que os indivíduos pensassem por eles mesmos. A fé cega guiava os rebanhos para a salvação da alma, mas tudo sob o controle das classes dominantes. Ou seja, as classes dominantes usavam as religiões para controlarem, hipnoticamente, os indivíduos pertencentes às classes sociais baixas. Durante a Guerra Fria, o bloco capitalista fez campanhas ideopolíticas contra o herege e demoníaco “bafo de enxofre” Karl Marx.
Sigmund Freud foi perseguido e excomungado pelos religiosos católicos, pois àquele somente o estudo das influências dos dogmas e dos tabus sobre os fiéis e não a compreensão da religiosidade. A sexualidade humana — muito diferentemente nas religiões orientais — era um meio fim para o demônio perverter os filhos do Altíssimo. O excesso de pudor era tanto, que na Inglaterra, as pernas das mesas eram vestidas — as pernas lembrariam o órgão sexual masculino. (1)
Se para os orientais Kama Sutra, muito mais do que um livro sobre posições sexuais, representava as energias espirituais, no ocidente eraKama Suja, somente. Várias neuroses se desenvolveram pela repressão das religiões: sexual, comportamental (relacionamento com outros seres humanos e doutrinas religiosas desiguais), submissão da mulher ao homem etc.
Karl Marx e Sigmund Freud, perseguidos, considerados 'servos do mal'. Freud e Marx disseram que as religiões representam um estado infantil do ser humano, e que somente através da razão é que a humanidade se desenvolveria, psiquicamente. Freud e Marx tinham a convicção de que a ilusão religiosa iria desaparecer com o tempo (pela razão humana).
É necessário dizer, em tempos de "caça aos religiosos", pelos ateus, e "caça aos ateus", pelos religiosos, que Marx e Freud não fizeram qualquer levante para perseguições e destruições das religiões. Pela razão humana, naturalmente elas iriam desaparecer.
"Ninguém fala sobre a finalidade da vida dos animais, a menos que ela consista em servir aos homens, talvez. Mas isso também não é sustentável, pois com muitos animais o ser humano não sabe o que fazer— exceto descrevê-los, classificá-los, estudá-los — e inúmeras espécies animais se furtaram também a este uso, ao viver e se extinguir antes que o homem as visse. Novamente, apenas a religião sabe responder à questão sobre a finalidade da vida. Dificilmente erramos, ao concluir que a ideia de uma finalidade na vida existe em função do sistema religioso. (FREUD, p. 21)
Partindo de nossa mitológica teoria dos instintos, é fácil chegar a uma fórmula para os meios indiretos de combater a guerra. Se a disposição para aguerra é uma decorrência do instinto de destruição, então será natural recorrer, contra ela, ao antagonista desse instinto, a Eros. Tudo que produz laços emocionais entre as pessoas tem efeito contrário à guerra. Essas ligações podem ser de dois tipos. Primeiro, relações como as que se tem com um objeto amoroso, embora sem objetivos sexuais. A psicanálise não precisa se envergonhar quando fala de amor, pois a religião também diz: “Ama o próximo como a ti mesmo”. Sem dúvida, é uma coisa mais fácil de se pedir do que de realizar. (FRED, p. 247)
Se as religiões agonizam, os fiéis também. Os ultraconservadores religiosos querem que as libertinagens acabem: feministas e LGBT." Soldados "são formados por algumas religiões. Geralmente são crianças e adolescentes aprendendo as" verdades "esculpidas no Livro Sagrado. Uma (nova) Guerra Santa está para surgir, e é preciso estar preparado para ela. Os pecadores devem ser condenados. Freud, em Totem e Tabu, observa que certas punições são severas ao indivíduo que transgride as regras do grupo. Por quê? Culpa coletiva: a tribo poderia ser castigada, caso o transgressor ficasse impune.
Donald Trump, o empresário-presidente. Suas frases de efeito servem para causar desconexões sociais. Essa é a tática de Trump. Ele sabe que o ultraconservadorismo não é mais capaz de se materializar, totalmente, nos EUA. Seria retrocesso:" costela de Adão "(submissão da mulher ao homem);" chicote no lombo ou trabalho "(racismo aos afrodescendentes); entre outros. No Brasil não é diferente. As mudanças sociais trazidas pelos direitos humanos incomodaram os ultraconservadores religiosos. Feministas e LGBTs representam pecados extremos, devem ser condenados, senão Deus lançará uma maldição sobre todos (analogia ao Totem e Tabu).
As religiões, quando pregam o amor universal, são ótimas para o contrato social (Jonh Locke) ou o pacto social (Sigmund Freud), mesmo que o comunitarismo traga um mal-estar. Porém, é a democracia imbuída da essência dos direitos humanos que possibilita o livre pensar. Quando falo livre pensar (liberdade de expressão e de pensamento) me refiro ao esgotar das ideias. Não basta apenas" ser proibido ", é necessário dizer o porquê da proibição.
Por exemplo, Nazismo. Recentemente foi leiloado, com sucesso, o telefone vermelho de Adolf Hitler. O aparelho é um símbolo incrustado de horrores, pois da boca do Führer saíram às ordens que ocasionaram o Holocausto. Na edição nº 225, de 2006, da Revista Superinteressante, o título chama a atenção: Ciência Nazista.
"Os pesquisadores de Hitler mataram, mutilaram, torturaram. Agora, 60 anos depois, cientistas querem usar os resultados daquelas experiências para salvar vidas. Temos esse direito?
Temos dois fatos ligados ao Nazismo. Telefone vermelho e experiências médicas nas cobaias humanas consideradas sem importância para os próprios nazistas.
1) Por que do leilão do telefone vermelho? O que o telefone trará de benefício aos seres humanos do século XXI?
2) O porquê da burocracia, dos dilemas éticos, quanto às experiências nazistas? Por mais macabras que foram, caso possam salvar vidas, elas poderão gerar benéficos para os seres humanos do século XXI, e quem sabe, os aperfeiçoamentos farmacêuticos e cirúrgicos para os próximos séculos.
Esses paradoxos devem ser esgotados pela liberdade de expressão e de pensamento. Na esteira do raciocínio, as ideias contra ou a favor das religiões devem ser amplamente confrontadas, pacificamente, por exemplo:
  • Liberdade sexual;
  • Aborto;
  • "Morte digna" em caso de doença terminal;
  • Maldição de Noé à África;
  • Obediência da mulher ao homem;
  • Educação sexual nas instituições de ensino sobre LGBTs;
  • Casamento LGBT;
  • Catequização ou evangelização aos povos indígenas.
Quando se esgotar as justificativas, a razão surge. E dessa razão, o ser racional jamais tripudiará como um troglodita que pisa no peito do vencido.
REFERÊNCIAS:
FREUD, Sigmund. O MAL-ESTAR NA CIVILIZAÇÃO, NOVAS CONFERÊNCIAS INTRODUTÓRIAS À PSICANÁLISE E OUTROS TEXTOS (1930-1936) TRADUÇÃO PAULO CÉSAR DE SOUZA. VOLUME 18. Companhia da Letras.
SILVA, Valmir Adamor da Silva. Psicanálise Surpreendente. 3ª ed. Rev. E atul. Tecnoprint. 1985
Sérgio Henrique da Silva Pereira, Jornalista
Sérgio Henrique S P, Jornalista e professor
Jornalista, professor, escritor, articulista, palestrante, colunista. Articulista/colunista nos sites: Academia Brasileira de Direito (ABDIR), Âmbito Jurídico, Conteúdo Jurídico, Editora JC, Governet Editora, Investidura - Portal Jurídico, JusBrasil, JusNavigandi, JurisWay, Portal Educação.