quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Branco ganha até 6 vezes mais que negro em bairro nobre de SP, diz IBGE

.16/11/2011


Discrepância entre rendas foi apontada por levantamento do IBGE.
Pesquisa faz retrato detalhado de cada um dos 96 distritos da capital
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Do G1 SP


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Levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) no ano de 2010 mostra que o rendimento médio mensal de uma pessoa que se diz branca chega a ser até seis vezes maior do que de uma negra nos bairros considerados nobres da capital. Os moradores destes distritos que se declararam negros, inclusive, tinham rendimentos inferiores àqueles que se disseram de cor parda e indígenas. Apenas nos bairros considerados mais carentes da capital, os rendimentos entre brancos e negros se equiparavam.

A pesquisa do IBGE traz um retrato detalhado de cada um dos 96 distritos de São Paulo, com informações sobre a divisão por sexo, idade, alfabetização, cor ou raça, e outras informações, como o número de imigrantes por continente e país, e variação do rendimento médio por raça ou cor ou então o número de mortos conforme o sexo e a faixa etária.

De acordo com o estudo, a capital tinha em 2010 uma população de 11.253.503 pessoas, sendo que a maioria se declarou de cor branca – 6.824.668. Em contrapartida, foram 736.083 negros, 246.244 de cor amarela, 3.433.218 pardos e 12.977 indígenas. Ao menos 313 pessoas não declararam a raça.

O Grajaú, na Zona Sul, é o bairro de São Paulo mais populoso, segundo o IBGE, com 360.787 moradores, sendo que 152.873 se declararam brancos, 31.279 negros, 173.688 pardos, 2.543 amarelos e 341 indígenas; outros 63 não declararam a cor.

Marsilac, também na Zona Sul, por outro lado, é o menos populoso, com apenas 8.258 moradores, sendo 4.095 brancos, 466 negros, 95 amarelos, 3.548 pardos e outros 54 indígenas. O bairro, segundo o estudo, conta com o menor número de imigrantes: apenas nove, sendo quatro japoneses, dois italianos, um alemão, um holandês e um australiano.

Discrepância
O levantamento do IBGE evidenciou uma discrepância entre os rendimentos médios mensais de brancos e negros nos bairros nobres da capital. Em Moema, por exemplo, levando-se em consideração as pessoas com 10 anos ou mais com rendimentos, o valor médio ganho por uma pessoa que se declara branca é de R$ 7.636,96. Em média, um negro, no mesmo bairro, tem rendimento de R$ 3.157,35 por mês, abaixo de um pardo, com R$ 7.544,11, de um amarelo, R$ 3.676,57, e até de um indígena (R$ 4.256,43). No bairro, que contava com 797 negros declarados, de um total de 83.368 moradores, o rendimento médio apurado é de R$ 7.384,73, o mais alto da capital.

A diferença é ainda mais gritante no Morumbi, outro bairro nobre, onde o rendimento médio mensal é de R$ 6.959,73 por morador de 10 anos ou mais com vencimentos. Neste perfil, uma pessoa que se diz branca afirma que tem um rendimento médio de R$ 8.329,35. O de um negro, por sua vez, é de R$ 1.388,60, cerca de seis vezes menos. O de um pardo, R$ 5.659,10.

Nos bairros mais carentes, em contrapartida, há uma equiparação entre os rendimentos. Em Marsilac, onde o morador recebe o menor valor médio mensal, de R$ 772,15, uma pessoa que se diz parda tem rendimento de R$ 865,06, acima de uma branca, com R$ 825,06, e de uma negra, R$ 793,82.

Já em Lajeado, na Zona Leste, o rendimento médio mensal é de R$ 861,38. Um branco recebe R$ 914,26, enquanto que um pardo, R$ 901,16, e um negro, R$ 837,21.

Renda por cor
Pelo levantamento do IBGE, no bairro de Marsilac, no ano passado, havia um único morador que se declarou branco, com renda acima de 30 salários mínimos, contra 4.821 – destes, 4.546 se disseram brancos e 20, negros – moradores de Moema, na Zona Sul. Em Lajeado, eram apenas três com tal renda, sendo um branco e dois pardos.

No Grajaú, em contrapartida, 123.130 moradores declararam não ter qualquer fonte de renda; 43.551 ganhavam entre meio e um salário mínimo; e outros 90.972, entre um e dois salários mínimos. No Jardim Ângela, outro distrito carente localizado na periferia da Zona Sul, de um total de 244.989 moradores com 10 anos ou mais, 102.735 se declararam sem fonte de renda. Além disso, 35.432 tem rendimento entre meio e um salário mínimo, enquanto outros 74.721, entre um e dois mínimos.

É justamente nos bairros mais carentes que a somatória dos que se dizem negros e pardos supera o número total de brancos, de acordo com o estudo do IBGE. São eles: Anhanguera, Brasilândia, Capão Redondo, Cidade Ademar, Cidade Tiradentes, Grajaú, Guaianases, Iguatemi, Itaim Paulista, Jardim Ângela, Jardim Helena, Jardim São Luís, Parelheiros, Pedreira, Vila Curuçá e Lajeado.

Alfabetização
Em números absolutos, o Grajaú registrou o mais índice de pessoas não alfabetizadas com 10 anos ou mais. Ao todo, foram 15.520 pessoas, sendo que 1.895 se declararam negros e outros 8.080, pardos. No Jardim Ângela, outro bairro carente, foram registradas 13.592 pessoas não alfabetizadas, sendo 1.732 negros e 7.474 pardos.

Bairros cujos moradores apresentaram rendimento médio mensal superior aos 10 salários mínimos, em contrapartida, têm alto índice de pessoas alfabetizadas. No Alto de Pinheiros, na Zona Oeste da capital, por exemplo, de um total de 39.555 pessoas, apenas 229 não se disseram alfabetizadas. Em Moema, proporcionalmente, tal índice é mais alto ainda. Apenas 301 pessoas, sendo 30 negros e 78 pardos, se declararam analfabetas, de um total de 76.401 pesquisados.

Mortalidade entre os mais jovens
O índice de mortalidade entre os mais jovens – dos 15 aos 34 anos – também é mais alto nos bairros mais carentes, constatou o levantamento do IBGE. No Grajaú, por exemplo, no período de agosto de 2009 a julho de 2010, houve 168 mortes nesta faixa etária de um total de 1.453. Em Sapopemba, na Zona Leste, no mesmo período, foram 143 de um total de 1.355 falecimentos.

Já no Alto de Pinheiros, de um total de 221 no período citado apenas três delas foram de pessoas na faixa entre os 15 e 34 anos. Em Moema, apenas 4 mortes, de 354 registradas. A Barra Funda, na Zona Oeste, teve apenas dois falecimentos, de um total de 90.

Curiosidades
Segundo o IBGE, a Vila Mariana, na Zona Sul, é o bairro com maior número de imigrantes: 1.341 no total, sendo 354 deles norte-americanos. Marsilac tem o menor número: apenas nove.

O bairro da Saúde tem a maior concentração de moradores que se declararam amarelos - 17.706 -, seguido pela Vila Mariana, com 12.666; Jabaquara, 11.335; e Liberdade (11.261).

Parelheiros e Jaraguá têm o maior número de indígenas declarados. O primeiro bairro, de um total de 131.183 moradores, 1.002 eram indígenas. No Jaraguá, de 184.818 moradores, 583 se disseram indígenas.