quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Carnaval, Samba e Sexo Seguro


Por Dr. Leandro Alves Gomes Ramos, oncologista da Oncomed – BH

Está chegando a hora da folia nacional. As marchinhas do Carnaval já começam a ecoar nas esquinas do país. Quem pretende cair na farra não deve deixar de fora a serpentina, o confete e, claro, a camisinha. O preservativo é a garantia de que a alegria continue depois do feriado. Afinal, além de método contraceptivo, é a melhor maneira de se manter livre das doenças sexualmente transmissíveis.

Estudos recentes têm mostrado uma forte ligação entre a infecção genital pelo papiloma vírus humano (HPV) e o câncer de colo uterino. O HPV está presente em mais de 99% das células destes tumores. Existem mais de 200 tipos de HPV e estes podem ser classificados segundo o risco para o desenvolvimento deste câncer. Aproximadamente 15 tipos de HPV são considerados de alto risco e estão relacionados com o câncer de colo uterino, dentre estes, os mais importantes são o HPV 16 e o HPV 18, encontrados em 70% dos casos.

A infecção pelo HPV é muito comum, cerca de 50% a 80% das mulheres sexualmente ativas serão infectadas por um ou mais tipos de HPV em algum momento de suas vidas. A maioria destas infecções é transitória, sendo combatidas espontaneamente pelo sistema imunológico. Estudos epidemiológicos mostram que apenas uma pequena fração (entre 3% a 10%) das mulheres infectadas com um tipo de HPV de alto risco de câncer desenvolverá câncer de colo uterino. O tempo necessário entre a infecção persistente pelo HPV e o aparecimento do câncer de colo uterino é em média de 15 anos.

A transmissão do HPV genital ocorre através da relação sexual, ou através do contato direto com a pele contaminada. Por este motivo, o uso de preservativo na relação sexual diminui o risco desta transmissão, conseqüentemente, reduzindo também a incidência do câncer de colo uterino. O câncer de colo uterino ainda é uma doença de alta prevalência no Brasil. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), no ano de 2008, a taxa de incidência desta doença no Estado de Minas Gerais foi de 13,8 novos casos para cada cem mil mulheres. No Brasil, o câncer de colo uterino é a quarta causa de morte por câncer em mulheres. A sua incidência torna-se evidente na faixa etária de 20 a 29 anos e o risco aumenta rapidamente até atingir seu pico, geralmente, na faixa etária de 45 a 49 anos.

Através do programa para detecção precoce do câncer de colo uterino, também conhecido como exame de Papanicolaou, a incidência e a mortalidade desta doença têm reduzido significativamente nos países desenvolvidos. Apesar das várias campanhas educativas realizadas no Brasil pelo Inca, grande parte de nossa população ainda está fora do alcance deste exame tão importante. Por este motivo, muitas vezes, o diagnóstico é realizado apenas quando a mulher apresenta sintomas de doença avançada - tais como sangramento vaginal e dor - tornando assim o tratamento menos eficaz.

Uma vez estabelecida esta relação entre câncer de colo uterino e HPV, muitas pesquisas estão sendo desenvolvidas para a criação e aprimoramento de vacinas contra este vírus. Apesar das grandes expectativas e resultados promissores nos estudos clínicos, ainda não há evidência suficiente da eficácia da vacina contra o câncer de colo do útero. Foram desenvolvidas duas vacinas contra os tipos mais presentes no câncer de colo uterino (HPV-16 e HPV-18). Mas o real impacto da vacinação contra o câncer de colo uterino só poderá ser observado após décadas. Há duas vacinas comercializadas no Brasil, porém não disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Uma delas é quadrivalente, ou seja, previne contra os tipos 16 e 18, presentes em 70% dos casos de câncer de colo uterino e contra os tipos 6 e 11, presentes em 90% dos casos de verrugas genitais (doença benigna). A outra vacina é específica apenas para os subtipos 16 e 18.

Mais importante que a vacinação são os exames anuais de Papanicolaou e o tratamento precoce das lesões com alto risco de malignidade. Estes métodos reduzem significativamente a mortalidade por câncer de colo uterino. Porém, grande parte da população brasileira ainda não tem acesso a estes procedimentos. Portanto, mais do que nunca, neste Carnaval a população não deve se esquecer que o sexo seguro é a melhor maneira de se proteger contra o HPV e das demais doenças sexualmente transmissíveis.

Fonte:
Juliana Morato Menezes - Assessora Link Comunicação