sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Racismo – Intolerância Religiosa - Violência Contra Mulher - Abuso de Autoridade - Tortura



Ação Racista, Sexista na Bahia através da Policia MilitarTexto publicado na íntegra, sem alterações – Enviado por e-mail “Trata-se de mais uma ação racista, sexista do Estado da Bahia na figura de sua Policia Militar com o requinte de Pedrito Gordo contra os candomblés estaremos em Ilheus nesta terça-feira[...] “.

Hamilton Borges Walê

Ilhéus (BA) – Urgente - Racismo – Intolerância Religiosa - Violência Contra Mulher - Abuso de Autoridade - Tortura
”Sábado dia vinte e três de outubro de 2010, por volta das 14: 00 hora, um pelotão da Polícia Militar da Bahia, invadiu o assentamento D. Helder Câmara, em Ilhéus, levando a comunidade de trabalhadores e trabalhadoras rurais a viverem um momento de terror, tortura e violência racial. Os fatos: Ao ser questionado pela coordenadora do assentamento e sacerdotisa (filha de Oxossi) Bernadete Souza, sobre a ilegalidade da presença do pelotão da polícia na área do assentamento, por ser este uma jurisdição do INCRA – Instituto Nacional e Colonização de Reforma Agrária e, portanto a polícia sem justificativa e sem mandato judicial não poderia estar ali.

Menos ainda, enquadrando homens, mulheres e crianças, sob mira de metralhadoras, pistolas e fuzil, o que se constitui numa grave violação de direitos humanos. Diante deste questionamento, o comandante alegando “desacato a autoridade” autorizou que Bernadete fosse algemada para ser conduzida à delegacia. Neste momento o orixá Oxossi incorporou a sacerdotisa que algemada foi colocada e mantida pelos PMs Júlio Guedes e seu colega identificado como “Jesus”, num formigueiro onde foi atacada por milhares de formigas provocando graves lesões, enquanto os PMs gritavam que as formigas eram para “afastar satanás”.

Quando os membros da comunidade tentaram se aproximar para socorrê-la um dos policiais apontou a pistola para cabeça da sacerdotisa, ameaçado que se alguém da comunidade se aproximasse ele atirava. Spray de pimenta foi atirado contra os trabalhadores. O desespero tomou conta da comunidade, crianças choravam, idosos passavam mal. Enquanto Bernadete (Oxossi) algemada, era arrastada pelos cabelos por quase 500 metros e em seguida jogada na viatura, os policiais numa clara demonstração de racismo e intolerância religiosa, gritavam “fora satanás”! Na delegacia da Polícia Civil para onde foi conduzida, Bernadete ainda incorporada bastante machucada foi colocada algemada em uma cela onde havia homens, enquanto policias riam e ironizavam que tinham chicote para afastar “satanás”, e que os Sem Terras fossem se queixar ao Governador e ao Presidente.

A delegacia foi trancada para impedir o acesso de pessoas solidarias a Bernadete, enquanto os policias regozijavam – se relatando aos presentes que lá no assentamento além dos ataques a Oxossi (incorporado em Bernadete) também empurraram Obaluaê manifestado em outro sacerdote atirando o mesmo nas maquinas de bombear água. Os policias militares registraram na delegacia que a manifestação dos orixás na sacerdotisa Bernadete se tratava de insanidade mental.

A comunidade D. Hélder Câmara exige Justiça e punição rigorosa aos culpados e conclama a todas as Organizações e pessoas comprometidas com a nossa causa. Contra o racismo, contra a intolerância religiosa, contra a violência policial, contra a violência à mulher, pela reforma agrária e pela paz.
Projeto de Reforma Agrária D. Hélder Câmara
Ylê Axé Odé Omí Uá
Reaja

Samuel Azevedo
África 900
Diretor Presidente
Filiado Á Conen - Bahia
Relações Internacionais”

comentário

É simplesmente estarrecedor, tal fato, principalmente por ter acontecido na Bahia (Ilhéus) onde tudo começou, ou seja, de lá assim como da Maranhão partiram para o resto do Brasil a cultura dos negros djeges, fanti ashantis, mandingas, fulas, angolas, bantos, yorubás entre outros. Nós afro descendentes sempre tivemos a Bahia como um referencial religioso da mais alta seriedade, pois de lá surgiram grande lideranças tais como, Mãe Menininha do Gantois, Olga de Alaketo, Iyá Detá, Iyá Nassô, Mãe senhora, entre muitos outros pelo tronco religioso, e pelo tronco cultural podemos destacar Jorge Amado, Dorival Caíme, Caribé, Pierre Verger e outros. E de repente em uma explosão de preconceito, racismo e violência contra a mulher, partindo justo de quem tem o dever legal de primar e zelar pela integridade física e moral dos cidadãos, no caso, a polícia de Ilhéus. Nada, mas nada mesmo pode justificar tanta violência e selvageria, que nem na época do Brasil Colônia ter-se-ia encontrado. Principalmente pelo fato de ter ocorrido em momento de transição política, no calor do embate público dos candidatos a presidência da república, tendo sido noticiado, outrossim, que o Governador reeleito do PT, Jaques Wagner esteve em Ilhéus um dia antes agradecendo a expressiva votação obtida naquele Município, bem como a candidato Dilma Rousseff. Inobstante isto, os facínoras que travestidos de policiais, de homens da lei, não respeitarem os direitos básicos de qualquer cidadão em uma democracia, ou seja, de que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei, conforme insculpido no inciso II do artigo 5º da Constituição Federal de 1988. Os criminosos sequer portavam um mandado judicial, e já chegaram agredindo física e moralmente as vítimas. Desrespeitando os postulados religiosos da religião afro brasileira, os orixás, que em transe nos seus Omós (filhos) se fizeram presente no intuito talvez e minorar tão nefasta agressão, mesmo assim, uma das suas filhas, a sacerdotisa Bernadete foi arrastada, posta em cima de um formigueiro, e jogado em um calabouço junto com homens, que é defeso (proibido) por lei. Os nossos postulados (orixás) foram taxados de demônios, e seus Omós (filhos) de insanos mentais (loucos). Deus do céu! É muita ignorância, praticada com certeza em nome do preconceito religioso, o que querem nossos inimigos, varrer da face da terra o nosso culto, as nossas práticas religiosas? Tudo por que, eles acham e acreditam que o Deus deles, é somente deles, e que o nosso seria um demônio de rabo e de chifres, que para nós é uma falácia (um mito), criado por eles mesmos, para sufocar povos e Nações. Pois nós cultuamos as forças vivas e divinizadas da natureza, os orixás, nkisses, voduns, encantados e espíritos de luz. Mas temos certeza tais agressões hediondas não ficarão impunes.
João Batista de Ayrá/advogado/jornalista/advogado